Ah, o que eu faço quando a vida não me corre bem?
Primeiro eu choro! Choro como a criança da qual esqueceu-se o Papai Noel. Depois eu durmo, horas a fio eu durmo com a esperança de não acordar...
Mas depois as costas doem, a vida chama, o mundo gira em torno do sol e não do nosso umbigo e assim eu escuto meu pai a gritar nas taperas do meu inconsciente: “não se assustemo que tudo se ajeita, vivente!”
Basta não largar as rédeas...
Então eu levanto-me do tombo, agarro na minha tristeza e transformo-a em palavras!
As mais belas me saem como punhos cerrados ou afiados punhais: ferem, cortam, exorcizam meu coração da dor... Essas me são as mais caras, as que trato com maior zelo e dedicação, pois são elas domadoras dos meus anseios.
Outras ganham espaço qual nuvens de algodão-doce convidando a revisitar memórias dos meus tempos de guria quando brincava de tropa de osso com os primos na Estância Santa Isabel.
Brincam de revelar a essência dessa guapa redomona que desgarrou-se do pago antes que ele me enfrenasse a vontade.
Outras são como polvos: não lhes faltam braços para confortar o mundo!
Querem enxugar-vos as lágrimas e ajudar-vos a descortinar os mistérios dessa vida veiáca que nos obriga a cravar-lhe as unhas vez por outra.
Querem revelar que o paraíso existe e pode estar mesmo aqui quando a humanidade passar a trocar as armas por palavras!
E o mais fantástico é saber que podemos trocar essas mesmas palavras por outras, se necessário for, e ainda assim dizer as mesmas coisas.
Existe algo mais mágico que as palavras? Tanto podem ser armas, escudos, laços, correntes, flores, adagas, abrigo, prisão...
Podem ser mentiras e verdades, erguer ou destruir mundos.
Mas no cerne de toda a questão, apenas uma coisa as palavras nunca serão: Solidão! Pois se há palavra, há quem leia, há quem escute, há quem repita...
E eu me pego pensando: será que quem inventou a palavra sabia que inventara o elo de ligação entre todas as almas do mundo?
Isso sim é que é responsabilidade! Talvez, sem querer, esse ser tenha criado a chave para a eternidade!
Maria Beck Pombo