É chegada a hora em que ela não vomita mais palavras, antes o coração aos pedaços!
Despe-se da alma e se despede do divino, agarra o profano pela garganta e sustém os próprios gritos…
Já não adianta gritar!
De dezembro a dezembro recebera uma punhalada por dia, todos os dias e, calada, suportara a dor.
A dor que crescia como um tumor dentro do peito, apertando o seu estômago e invadindo a sua garganta roubando-lhe o ar, obrigando-a a reviver, vezes sem conta, o luto eterno de quem enterra vivo o incondicional amor, diariamente.
É chegada a hora em que ela, outrora flor a enfeitar caminhos, já despida de todas as pétalas, aceitou o fado do mal-me-quer e lavou as mãos em água de mar, pedindo a Iemanjá que a acolhesse e ao Universo que conspirasse ao seu favor e abrisse os seus caminhos, pois pronta estava para aceitar dele o que viesse e entender que, por muito acidentada que seja a estrada, a paisagem vale os trambolhões.
Recebera, enfim, o sinal da mudança em sua realidade: chegara o momento de libertar-se.
É chegado o dia em que ela abre os grilhões da culpa e encarcera o remorso!
Elimina o receio de ser julgada e acata a sentença do exílio, sem medo de sentir saudades.
Como poderia sentir falta de quem faltou sistematicamente para ela?!
Hoje um novo futuro se erige diante dos seus olhos, um futuro baseado naquilo que ela tem, não mais no que lhe falta!
Nada melhor que o rancor de um para condicionar o amor do outro e transformá-lo em mágoa!
Maria Beck Pombo