Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – O mundo é um moinho

Turistando Lendas e Lugares – O mundo é um moinho

Opinião | 31 Agosto 2021

Acordou, naquela morna e agradável manhã de verão, inspirada a abraçar o mundo!

Nem a noite mal dormida sobre o desconfortabilíssimo colchão de insuflar fora capaz de lhe estragar o bom humor.

Do banco de pedra em que se sentava, debaixo dos carvalhos e castanheiras, podia ouvir o som das bolotas a cair no chão e do bater das asas das libelinhas azuis que sobrevoavam as cabeças despenteadas e emaranhavam-se nos cabelos, causando o frenesim do criaredo.

Inspirava calmamente e deixava que o suave perfume da natureza lhe invadisse os pulmões, como se pudesse sentir todo o divino a lhe preencher o corpo e o espírito com a felicidade que se completa nos finais de semana grandes e nas férias de verão, quando tem a família que constituiu, “aos trancos e barrancos”, reunida sob o mesmo teto, fosse ele casa ou tenda.

Tentou esquecer que cada segundo que passava era um segundo a menos a desfrutar da companhia do guri, que se despedia a cada fim de temporada, partindo seu coração em mil pedaços.

Esse mesmo coração que cicatrizava e voltava a se estilhaçar ano após ano.

Olhou para a paisagem ao redor, para as folhas secas no chão, para as carapaças dos insectos presas às árvores, anunciando o desenvolver da vida, como a roupa que nos aperta atestando que crescemos demais.

Viu as flores murchas, que perdiam o colorido das pétalas lentamente, espalhadas entre a relva que as acolhia e absorvia. Mas também viu verde, muito verde. Um verde que se estendia até perder de vista, a inundar a paisagem cor-de-esperança revelando abertamente, aos olhos daqueles que escolhem ver, que a vida se extingue e se renova ciclicamente e apenas dessa forma consegue prevalecer.

Tudo fenece e serve de adubo para um novo florescer que renasce com mais viço e mais vigor, alimentado pelo que era e transformado em semente para o que será.

Apenas o Amor desconhece o fim.

Esse atravessa eras, sem conhecer barreiras, impresso nas páginas amareladas da história escrita pelos que ousaram acolhê-lo plenamente.

 

Maria Beck Pombo

 

 

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