Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Com Açúcar, Com Afeto

Turistando Lendas e Lugares – Com Açúcar, Com Afeto

Opinião | 18 Fevereiro 2020

Há doze anos atrás esta gaúcha que aqui vos fala decidiu trocar campo por mar e aventurar-se em terras lusitanas.

Despediu-se da família, dos amigos, dos costumes e trouxe na bagagem uns poucos sonhos e muito espaço. Queria preencher-se da história, das gentes e de novos costumes, queria ficar plena de Portugal.

Porém nem tudo são rosas e a vida de um imigrante nas bandas de cá pode ser, no mínimo, uma grande luta.

E lutou para conquistar amigos, espaço, reconhecimento e por uma abertura de braços que nunca vinha.

Sentiu-se só em meio a uma multidão que não lhe estendera as mãos ou sequer palavras de boas vindas.

Chorou pela querência abandonada e, "perdida num mato sem cachorro", quase boleou-se de volta para a terra que a pariu.

Cobriu-se de cravos então, baixou as armas, abrandou o coração e esperou.

Mas não de braços cruzados, esperou a plantar flores, a cuidar do jardim que receberia os afetos deste povo tão estranho a sua cultura, costumes e hábitos.

Quis partilhar os seus. Pôs a mesa na varanda, cevou o mate e preparou-se para dividir bolo, alma e coração.

Apenas quem troca o pago sagrado pelo há tanto desejado conhece a maldição que carrega.

Eu venho de uma terra onde os vizinhos se conhecem, e quando instala se um novo, mais do que depressa lhe batemos à porta a pedir emprestada uma xícara de açúcar, "pois faltara para o bolo planeado". A gentileza era sempre recompensada com um grande e delicioso pedaço "acabado de sair do forno".

Partilhar nossas necessidades ou abundâncias com os vizinhos, amigos e familiares não era vergonhoso, inconveniente ou indiscreto. Era a nossa maneira de estreitar laços e fortalecer relações.
 
Era o que dava à palavra Comunidade o seu sentido mais íntimo e mais bonito.
Tenho uma resolução feita para 2020: vou começar a pedir açúcar aos vizinhos!
Vale um grande e delicioso pedaço de bolo tão quente quanto um afetuoso abraço, quem vai querer?

Maria Beck Pombo

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