" Abra a boca e canta!"
Pensou ela enquanto tentava, frustradamente, emitir algumas notas.
Desafinadamente elas ganhavam espaço, ferindo lhe os ouvidos e o coração...
Não podia compreender! Nunca fora talentosa cantora mas ao menos algo que se aproveitasse.
Entretivera públicos exigentes e menos, recebera aplausos e ovações.
Agora mais valia emudecer!
Pensou no filho. Em cada canção de embalar. Nas canções que passaram, por hábito, a embalar. O filho... Era o seu melhor público: sempre atento, sempre a acompanhar nota e canção, sempre a pedir bis:
"— Ah, mamãe, canta mais uma!?"
E ela cantava! As mais belas, as mais repletas de significado e carregadas de ensinamentos de vida que queria gravar na memória do guri como orações.
" Ser mãe é exercitar o desapego...", pensou consigo mesma.
Percebeu, por fim, onde a perdera: ao trocar o Tejo pelo Douro trouxe o corpo e deixou, com a cria, a voz!
Maria Beck Pombo