Voz da Póvoa
 
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As Universais Colunas d’Emoção do Ser Músico

As Universais Colunas d’Emoção do Ser Músico

Freguesias | 19 Janeiro 2021

Somos um mundo de línguas, oficiais ou não. Depois há os dialectos e outras tantas palavras por inventar, mas na humanidade apenas a música é uma linguagem universal, desde os tempos mais remotos. A própria musicalidade da natureza afina pelo diapasão das estações, talvez por isso, Vivaldi as tenha inspirado em partituras para violino e orquestra, cada uma com as suas próprias especificidades.

Em Terroso há uma escola de música agarrada a Colunas D’Emoção. “Em boa verdade, a escola começou no lugar dos Chamosinhos, pela mão de uma grande amiga, a Adalgisa Pontes, professora doutora no Instituto Politécnico de Viana do Castelo, e que ainda hoje é a directora Pedagógica da Colunas D’Emoção. Ela começou este projecto a ensinar piano. Depois, o seu namorado e agora marido dava aulas de guitarra e, entre 1999 e 2002, ensinaram música a cerca de uma dezena de crianças. Era uma casa de família que passou a ser uma casa de música. Entretanto, em 2003, o padre Pedro soube da iniciativa e lançou o repto de criar mais uma valência no Centro Social. Com o apoio logístico e, através do Salão Paroquial de Santo António crescemos e começámos a ter alunos de fora de Terroso. Alguns, mais tarde foram encaminhados para o Conservatório. A escola esteve muito tempo ligada ao coro dos pequenos cantores e o padre Pedro foi um grande mecenas e incentivador, porque comprou com o dinheiro da paróquia e do seu próprio bolso, instrumentos para quem quisesse aprender, mas não pudesse adquirir”, revive Fernando Manuel Gomes Ferreira.

Nasceu na Póvoa de Varzim em 1992, mas é natural da Freguesia de Terroso. É licenciado em Direito. Foi aluno da Associação Colunas D’Emoção, fundada em 2003 e hoje, é o seu presidente. “A escola funcionava sempre com um dia aberto, em cada ano lectivo, onde todos podiam experimentar. Tivemos sempre uma audição associada ao Centro Social. Depois, começou a ter várias dinâmicas associadas, como uma classe de conjunto, um coro de alunos da escola, chegámos a cantar em casamentos. Quando o padre Pedro tomou conta da paróquia de Navais, a escola também iniciou naquela freguesia. Agora já não tem actividade. Fazíamos estas parcerias e fazíamos uma audição em cada trimestre. Tivemos sempre entre os 30 e 50 alunos”, recorda.

A Associação Colunas D’Emoção foi oficialmente formalizada a 3 de Novembro de 2013. Em 2014, o Centro Social necessitou das salas para o ATL, e a solução para Fernando Ferreira foi arranjar outro espaço: “Na altura, eu fazia parte da mesa da Junta de Freguesia e falei com o presidente Carlos Maçães sobre a possibilidade de ficarmos com a antiga sede de Junta, que acedeu ao pedido. A escola vive de um grupo enorme de voluntários e amigos, que fomentam a Associação. Arregaçámos as mangas e demos uma nova cara às paredes e uma grande limpeza. O primeiro ano lectivo na sede de Junta, foi em 2014 / 2015. Sabemos sempre o que vamos fazer em cada ano. Adaptamos, mas também tentamos ter uma novidade. Esta escola tinha associada a classe conjunto e começou a ter a variante de oficinas. Quando deixei de ser aluno fiz uma formação com a professora Adalgisa na área da representação e começo a ser monitor de Teatro. Passámos a ter muitos alunos que começavam pelo teatro e depois saltavam para os instrumentos ou o contrário. Nas audições de Natal chegamos a fazer a representação do presépio, a Fábrica do Pai Natal e um espectáculo sobre a língua portuguesa. Na véspera de um exame fizemos um conto de José Régio. Estamos também ligados às comemorações do 10 de Junho, dos Combatentes. Foram criadas na escola de música, várias dinâmicas culturais. A ideia sempre foi estabelecer nas crianças um espírito crítico para a cultura, fazê-las gostar de teatro como actores, mas também como público de teatro ou de música e ao mesmo tempo ensinar”.

Conquistados os alunos, era importante convencer os pais: “Desafiámos os pais dos alunos a formar um grupo de Teatro e durante quatro anos apresentamos sempre uma peça. Fizeram um trabalho excelente, desde os cenários, as roupas, criavam tudo. O primeiro espectáculo foi uma homenagem ao povo e ao antigo trajar da nossa freguesia de Terroso. Começámos a ter iniciativas paralelas, à parte das audições da escola. Tivemos parcerias com a escola de música de Vila Praia de Âncora, audições com a escola de música de Vairão e aulas com a escola Musiconde. Desde que a Associação se oficializou e a escola passou a ter esta definição pedagógica, mantivemos sempre as classes de Piano, Flauta Transversal, Bateria, Guitarra Clássica, Violino, Saxofone, Guitarra Elétrica, Combo, Classe Conjunto e Oficinas de Expressões Artísticas”.
 
E acrescenta: “Na guitarra eléctrica, os miúdos têm um ensino mais de ouvido ou ligado aos seus gostos. Temos também uma classe que, depois de alguns anos de aprendizagem, os alunos juntam-se e formam a sua banda. O projecto da professora Adalgisa, é música para transmitir emoção. Quando encontrámos o nome Colunas D’Emoção, propôs que a escola deveria ser vocacionada para o ensino das artes. Por isso, a equipa é composta por sete professores e quatro monitores voluntários ligados às áreas teatro, movimento e cinema. Mas, a escola está aberta a qualquer idade. Temos uma aluna que começou no piano aos 62 anos e há pais e filhos a estudarem música e instrumento, ao mesmo tempo. Há um projecto individual para cada pessoa que queira aprender. Há uma parte de concerto, mas também de prova para aprimorar o aluno”.
Com a pandemia, a escola de música perdeu alguns alunos, mas Fernando Ferreira acredita que o tempo os devolverá: “Tivemos que terminar com as aulas de grupo devido à pandemia. A escola vai-se adaptando, neste momento, estamos apenas com aulas individuais, de instrumento. Quando tivemos a escola fechada, os nossos professores conseguiram ir ao encontro dos alunos através das redes sociais. As aulas individuais obedecem a uma escala rigorosa para que a higienização possa ser feita com rigor, pela nossa voluntária. Neste momento, eu, Adalgisa e Maria da Luz, somos o trio que está à frente da Escola de Música. Algumas classes sentiram um bocadinho. Temos 23 alunos inscritos e 10 que voltam quando as aulas forem presenciais. A escola tem um carácter associativo e é apoiada pela Junta de Freguesia, que comparticipa com as despesas da água e da luz. Temos também o apoio da Câmara Municipal que nos ajuda nas apresentações no Auditório Municipal, mas também do padre Avelino com a cedência do auditório Pires Quesado”.
 
A música é como a matemática, o fascínio que se pode criar dela é próximo de um jogo: “O grau de aprendizagem dos miúdos vai evoluindo consoante vão ganhando um maior fascínio e dedicação. Estudar é fundamental para crescermos e descobrirmos no nosso talento. É muito importante o trabalho de autoestima de cada miúdo, porque a ideia, é exactamente fazer da música uma espécie de cura, de encontro consigo mesmo, de descoberta. Perguntamos sempre como é que se sentiu na audição para que o seu processo de aprendizagem seja completo”.
Como o sonho alimenta a vida, Fernando Ferreira, “gostava que este projecto tivesse uma dinâmica de articulação com a escola e com o ensino. No sentido em que os miúdos poderiam preparar uma performance. Ter um espaço próprio, um palco, para apresentar todas as expressões de arte, do Jazz à música popular, dança ou teatro. Pela continuidade de um projecto de livre expressão”.

Por:
José Peixoto

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